domingo, 5 de outubro de 2014

OPINIÃO! «O Quinto Filho», de Doris Lessing

Autora: Doris Lessing
Edição/reimpressão: 1989
Páginas: 173
Editor: Europa-América

Sinopse:
"Harriet e David Lovatt têm os mesmos anseios - fidelidade, amor, vida familiar e, acima de tudo, um lar. Teimosamente fora das modas dos anos 60, decidem casar e assentar as bases das suas vidas numa casa vitoriana. A princípio, parece o Paraíso. As crianças preenchem-lhes o quotidiano, e os familiares sentam-se à mesa da cozinha no Natal, desfrutando avidamente do calor humano da família Lovatt. Mas é com a quinta gravidez que as coisas começam a alterar-se. O bebé desenvolve-se dentro de Harriet demasiado cedo e com demasiada violência. Após um nascimento difícil, Ben revela-se uma criança estranha e cruel, cuja violência é instintivamente rejeitada pelos irmãos. 
Inexoravelmente, a sua presença alienígena vai destruindo o sonho de uma família feliz."

Opinião: 
Harriet e David conheceram-se numa festa do escritório à qual compareceram por obrigação. Para eles não fazia sentido viver de aparências e achavam que as pessoas presentes não passavam de hipócritas e mesquinhas.
Mas não só, porque a sociedade em geral não valorizava as tradições e apressava-se a julgar quem se destacava pelas opiniões e ideais diferentes aos tempos que se viviam.

Claro que Harriet e David quando se conheceram souberam que tinham encontrado o amor, melhor dizendo... alguém que também partilhava um sonho ... o mesmo sonho! E esse sonho era uma raridade, uma vez que passaria essencialmente por constituir uma família numerosa, com oito filhos no mínimo e uma casa enorme que pudesse receber a família inteira nas épocas festivas. Tudo isto se resumiria numa felicidade plena, segundo o entendimento deles.

Esse sonho para Harriet e David seria bastante simples de realizar e pela lógica deste casal deveriam começar o quanto antes a ter filhos e comprar "a casa ideal" porque caso contrário sentiam que lhes seria impossibilitado de o fazer/viver.
A intensidade deste sonho e a sofreguidão de o viver acabam por sobrepor-se às precauções normais de uma vida em comum e Harriet acaba por engravidar mais cedo do que era esperado pela família. Assim,  a família vai aumentando com Luke, depois Helen, Jane e Paul

Tudo estava bem e as festas organizavam-se apesar do cansaço de Harriet. Mas Harriet sabia que era julgada pelos seus familiares por se achar no direito de ter muitos filhos, sabia que todos achavam que devia parar de gerar filhos e que apenas o fazia por se tratar de uma pessoa inconsciente e presunçosa.

Embora consciente de ser acusada de "criminosa", Harriet engravidou do quinto filho... e tudo mudou! Como se fosse um castigo traz ao mundo um filho com características pouco ou nada amorosas, com semelhanças a um gnomo e caracterizado pela própria mãe como "perfeitamente não normal". E de facto Ben demonstra falta de inteligência, um olhar diabólico, com atitudes violentas e chega a provocar arrepios a quem o quer conhecer.
Este ser de raça diferente à dos humanos, consegue desestabilizar uma família inteira, espalhando o terror pelos seus irmãos que aos poucos acabam por abandonar a casa de sonho deste casal para viver com outros familiares. A Harriet cabe a tarefa de tentar perceber e viver com uma espécie de alienígena....

Gostei muito de reler este livro!! É uma obra que pelas grandiosas palavras da autora aborda a força e a determinação de uma mãe, a malvadez de uma criança e a devastação de uma família feliz.

Posso dizer que é uma obra que assenta em temas delicados, sobretudo em relação à criança "alienígena" que posteriormente no livro se transforma no reflexo generalizado da maldade, da violência e do medo que a sua mãe via nas notícias que passavam com mais frequência nos telejornais.

É uma obra que nos faz parar para pensar um bocadinho.

Boas Leituras!

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