sábado, 20 de outubro de 2018

OPINIÃO! «O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo», de Germano Almeida

O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo
(Pref. por Paula Tavares)
Autor: Germano Almeida 
Edição: Leya
Edição ou reimpressão: Setembro de 2018
Isbn: 9789896605292  
Preço: 10,00€ 

Sinopse:
"Quando morreu, o Sr. Napumoceno era um conceituado comerciante do Mindelo. A reputação da sua casa comercial tinha uma correspondência perfeita na sua reputação pessoal - bom, íntegro, sério, sem vícios, rico e respeitado. Mas a leitura das centenas de páginas do seu testamento lançou «uma nova luz sobre a vida e a pessoa do ilustre extinto». 
Página a página, o leitor vai assistindo à construção de uma personagem fascinante, rica, complexa, contraditória, fortemente enquadrada no pano de fundo que é a sociedade cabo-verdiana. Este romance de Germano Almeida foi adaptado ao cinema por Francisco Manso, no filme «O Testamento do Sr. Napumoceno»."
Prefácio de Paula Tavares

Opinião:
O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo é um romance cheio de graça, muito bem escrito e agradável de ler, devido à história tão fora do comum.
Conta a história de um homem que não tinha posses quando chegou a Mindelo e que, por conhecer as pessoas certas, como também devido ao seu esforço e perspicácia conseguiu abrir o seu próprio negócio "Araújo, Lda Importações e Exportações". O seu início passa claramente pelo contrabando, mas o Sr. Napumoceno rapidamente alcança uma posição admirável na cidade em que vive, reconhecido como um homem sério e honesto.

O seu sobrinho Carlos é também uma personagem interessante, tão cómica como o tio, e que surge como pupilo de Napumoceno. Carlos revela a sua natureza de comerciante desde muito cedo, o que acaba por se revelar conveniente para o tio, o qual, mais tarde acaba por revelar no seu testamento que se apoderou das ideias de Carlos como sendo de sua propriedade, já que lhe pagou os estudos.

"Porém, no seu testamento, o Sr. Napumoceno confessou que se assenhoreava das ideias do sobrinho como se fossem dele próprio e justificou que em boa verdade bem se poderia dizer que lhe pertenciam porque se Carlos as tinha fora porque ele o mandara para a escola e depois para Lisboa e até mesmo fora ele Napumoceno que lhe obtivera emprego na firma Carvalho e daí que as ideias do sobrinho mais não eram que o normal desenvolvimento de um capital bem investido e por esta razão  considerava-se legítimo proprietário de qualquer manifestação positiva que nascesse daquela cabeça."

A leitura do testamento do Sr. Napumoceno é nada mais do que a leitura de um livro de memórias, onde também, o defunto, perfilha Maria da Graça, sua filha com a ex-empregada de limpeza, D. Chica.

É a Maria da Graça que são entregues os verdadeiros cadernos de memórias de Napumoceno, onde ela descobre a razão que levou o seu pai a deserdar Carlos, como também outros acontecimentos e aventuras engraçadas e peculiares da vida de um homem de cariz social e político verdadeiramente interessantes.
Também lhe cabe a tarefa de cumprir a última vontade do falecido, entregar o livro "Só" de António Nobre, a Adélia.

É um romance divertido, mas que também retrata a solidão de um homem, que conheceu o amor, e que suspira a perda e o amor por essa mulher... até à morte.

Boas Leituras!

terça-feira, 16 de outubro de 2018

OPINIÃO! «Sono Crepuscular», Edith Wharton

Sono Crepuscular
Autor: Edith Wharton 
Editora: Edições Asa 
Edição: setembro de 2010  
Isbn: 9789892310022  
Páginas: 304

Sinopse:
"Com a cosmopolita cidade de Nova Iorque como pano de fundo, a família Manford refugia-se nas mais variadas formas de evasão para fugir ao tédio e ao vazio das suas vidas privilegiadas. No mundo da alta-sociedade a que pertencem, abundam o sexo, as drogas, a ânsia por dinheiro e poder, a atracção pelo oculto e pela espiritualidade new age. Nona é a filha mais nova e com apenas 19 anos ambiciona mais do que a busca de prazer imediato adoptada pela maioria dos jovens da sua idade. Numa época cuja prioridade é dada a relacionamentos superficiais, ela procura uma existência com sentido, algo que partilha com o meio-irmão, Jim. Mas a mãe de ambos, Pauline, tem da vida uma visão bastante mais utilitária e hedonista. A sua obsessão com as aparências vai forçá-los a assumir posições extremas e ditar irremediavelmente o futuro de todos. 

Sono Crepuscular poderia ter sido escrito no século XXI. Mas, na verdade, a grande senhora das letras americanas, Edith Wharton, escreveu-o no início do século passado e retratou os loucos anos vinte em toda a sua duplicidade."


Opinião:
Lita é uma personagem envolta em mistério, não só pela confusão de sentimentos que causa às restantes personagens, como também quando a sua presença gera reacções inesperadas. 

Foi acolhida por Pauline e casou com Jay, filho de PaulineEm jeito de contraste, Pauline é o género de mulher sempre atarefada, carregada de compromissos e determinada a ocupar todo o seu tempo. É um exemplo para tantas outras mulheres, um modelo a seguir. 
A dada altura, esta mulher tão poderosa apercebe-se de segredos que a deixam inquieta e vê o seu segundo casamento ameaçado..precisamente pela nora, Lita.

O filho de Pauline, Jay, é um homem correcto, respeitador e trabalhador. Mas aparentemente não é um homem suficiente para Lita, esta, sonha ser independente, livre e venera o mundo das artes e a par disso, os seus tios vêem o mundo do cinema como a melhor opção financeira de modo a que a sobrinha deles os possa sustentar, ao invés de Pauline. Assim, o divórcio começa a pairar sobre a vida do casal.

De tal forma, que Dexter Mayfrod decide planear umas férias que acabam por separar o casal, de modo a que o tempo de Lita possa ser apenas e só seu, com a desculpa que, assim o casal pode reconsiderar as adversidades e desavenças que têm vindo a acontecer. 
Certo é que, com a desconfiança de Pauline e a insegurança que se instala...Lita acaba por transformar e despedaçar a vida de uma família que a acolheu de braços abertos.

Esta história aborda uma época em que o divórcio é encarado como um "óbice à convivência social".

Um excelente romance que retrata a determinação em obter a liberdade pelo divórcio, e a prisão que um casamento pode proporcionar.

Boas Leituras!