Autor: Miguel Sousa Tavares
"Três histórias que se cruzam desde uma aldeia deserta até ao topo do poder."
Edição/reimpressão: 2013
Páginas: 352
Editor: Clube do Autor
ISBN: 9789897240720
Sinopse:
"No princípio, há uma madrugada suja: uma noite de álcool de estudantes que acaba num pesadelo que vai perseguir os seus protagonistas durante anos. Depois, há uma aldeia do interior alentejano que se vai despovoando aos poucos, até restar apenas um avô e um neto. Filipe, o neto, parte para o mundo sem esquecer a sua aldeia e tudo o que lá aprendeu. As circunstâncias do seu trabalho levam-no a tropeçar num caso de corrupção política, que vai da base até ao topo. Ele enreda-se na trama, ao mesmo tempo que esta se confunde com o seu passado esquecido. Intercaladamente, e através de várias vozes narrativas, seguimos o destino dessa aldeia e em simultâneo o dos protagonistas daquela madrugada suja e daquela intriga política. Até que o final do dia e o raio verde venham pôr em ordem o caos aparente."
Excerto:
“E agora, de volta à minha aldeia, onde a luz eléctrica chegara tarde demais para os homens, madrugada dentro, eu lia o Guerra e Paz. Numa aldeia morta, numa noite deserta, seguia, como se estivesse a ver, o esplendor dos salões de baile do Império Russo, a imensidão das estepes gélidas, os gritos de horror dos estropiados pelo fogo dos canhões de Napoleão Bonaparte, e chegava-me mais ao calor da lareira para não sentir a solidão das trincheiras de lama, húmidas, frias, desoladas, onde se abrigava o exército de Kutúsov. Alguém dissera um dia que se podia viver sem tudo, menos água e comida, mas que viver sem livros e sem música não seria o mesmo que viver.”
* Imagem e sinopse retiradas do site da Wook.
Opinião:
O autor começa por descrever a tragédia que ocorreu na madrugada suja do dia 23 de Maio de 1988, no Cromeleque dos Almendres e adianto já que o livro começa a ser interessante logo nas primeiras páginas, sem dó nem piedade!
O leitor fica comovido com a descrição dos acontecimentos dessa noite e como tal, fica imediatamente preso à necessidade de saber o desfecho do romance.
Madrugada Suja aborda a história de três personagens, são elas Filipe Madruga, Eva Ribeiro e Luís Morais.
A primeira personagem que o autor nos apresenta é Filipe Madruga e conseguimos perceber a educação que teve e a sua juventude numa aldeia pequenina chamada Medronhais da Serra. A vivência desta personagem é narrada pelo próprio como também pelo pai, mãe e avós paternos.
De seguida conta as dificuldades que Eva Ribeiro teve que ultrapassar depois da tragédia que mudou a sua vida. E relata também a ascensão de Luís Morais, que teve uma passagem muito breve por Medronhais da Serra.
Foi interessante ver como se desenrolou a vidas das três personagens, que no final se cruzam num ambiente de justiça e política.
Miguel Sousa Tavares tem uma capacidade de escrever romances/ficção que podiam ser reais, com personagens que podiam ser verdadeiras e que podiam muito bem serem nossos conhecidos.
Com esta obra pude chegar à conclusão que Miguel Sousa Tavares consegue criar um vínculo muito forte com o leitor de tal forma que este último chega a esquecer que está a ler uma "ficção"!
Madrugada Suja aborda temas de grande interesse, desde a política à justiça e todos os caminhos que pessoas "aparentemente" comuns e inofensivas percorrem para chegar ao poder.
De uma forma tão simples e clara descreve a corrupção, através de jogos de interesses, riscos calculados e acordos duvidosos numa teia alegadamente sem rasto, construída por pessoas movidas por puro interesse (egoísta e profissional).
Gostei particularmente de um excerto que se encontra na página 331.
Madrugada Suja retrata um mundo sujo, que o autor descreve de uma forma cristalina!
Boas Leituras!
A Eva Ribeiro é a mesma Eva que sofreu o acidente de carro com 16 anos?
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